segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Na crise do Chelsea, a grande chance do Corinthians



Nesta segunda à noite, o Corinthians embarcará com destino a Tóquio, para a disputa do Mundial de Clubes da FIFA. A partida deve presenciar uma festa da torcida à altura das expectativas que ela deposita nessa equipe, que, indiscutivelmente, é uma das maiores da história do alvinegro do Parque São Jorge.

Entretanto, creio que o Corinthians, assim como os demais clubes brasileiros que porventura vençam a Libertadores, não deveria depositar tantas expectativas no Mundial de Clubes. Primeiro, jogar um campeonato lindo como o Brasileiro, longo, onde um clube enfrenta uma verdadeira epopeia para vencê-lo, no lixo por conta de uma Recopa (o que em essência é o Mundial) é burrice. Visivelmente o Corinthians, como fizeram as demais equipes vencedoras da Libertadores nos últimos tempos, abandonou o Campeonato Brasileiro com vistas ao Mundial do fim do ano. O que mais me deixou incomodado nessa situação foi a conformidade que imprensa e torcida tiveram perante à situação Nenhuma grande crítica ou protesto com o abandono da competição nacional ocorreu, conforme a naturalidade com que a situação é lidada.. Há um automatismo idiota, ''quando se ganha a Libertadores, se abandona o Brasileiro''.

Isso sem contar a inegável superioridade que os representantes europeus terão frente ao demais. Se projetar para uma competição, o que custa toda uma logística que conta abandonar uma outra competição, para uma disputa Davi x Golias é idiotice, típica de quem precisa de auto afirmar perante aos de fora.

Ainda assim, creio que se for para depositar fé no representante sul-americano é agora que se deve.               O Chelsea atravessa uma crise, formada com a (muito provável) eliminação na primeira fase da Liga dos Campeões, onde defendia o título, e uma má (para os padrões do clube) campanha na Premier League, onde está a 10 pontos do líder Manchester United e com a mesma pontuação do primeiro fora da zona que da vaga à Champions League 2012-2013. Em meio a isso, uma demissão de treinador e a contratação de um com prazo de validade delimitado e com péssima imagem frente ao grupo.

A minha grande crítica à contratação do Rafa Benítez para o lugar do Roberto Di Matteo no comando do Chelsea não está nem tanto na qualidade do substituto, mas nessa recepção do elenco do Chelsea.  Todo mundo sabe que quando a panelinha de jogadores do Chelsea não bate com um treinador, não adianta, o time não vai render. Felipão e Villa-Boas que o digam.

Baseio a minha conclusão que a panela tem tudo pra agir sabendo:

- da personalidade do Di Matteo, ''amigão'' de todo mundo, que fechou o elenco, o que foi fundamental na conquista da UCL.

- Na pessoa do Rafa Benítez, que quando treinava o Liverpool vivia a alfinetar o então rival. Cech, Terry e Lampard, os líderes do elenco, pra não dizer da panelinha do elenco do Chelsea, lembram-se bem da figura.


Pois bem, desde que o Benítez assumiu: três jogos, 1 derrota e 2 empates. A derrota foi para o West Ham, time que o Chelsea não perdia havia 10 anos. Coincidência? Talvez. Mas não há como negar a importância da panela no desempenho nas quatro linhas. A panela em má vontade é sinônimo de time em má fase. Bons agouros na luta pelo bi campeonato corintiano.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Sobre o ''polêmico'' patrocínio da Caixa ao Corinthians

O Corinthians anunciou nesta segunda-feira, através do seu site, o novo patrocinador master do clube. Trata-se da Caixa Econômica Federal, que pagará 31 milhões de reais anuais, até 2014. A marca já estará estampada na camisa do clube a partir do próximo sábado, contra o Santos, no Pacaembu.

Pois bem, isso foi o suficiente para ''analistas'' exporem o seu clubismo travestido de ''revolta cidadã'': 

''Como pode, um banco estatal, financiar um time de futebol? O meu dinheiro dos impostos para o Corinthians? Certeza que isso tem o dedo do Lula. Mais dinheiro público para esse time sujo. Só no Brasil mesmo...''

Essa revolta é sem sentido e, como já disse, com fortes ares clubistas. Primeiro, não ocorreu grande revolta quando a Caixa anunciou que patrocinaria Avaí, Figueirense e Atlético-PR. ~Estranhamente~  só ocorreram grandes manifestações contra quando aquele que é um dos mais odiados clubes do país passou a ser o patrocinado.

''Mas isso ainda assim, é errado dá dinheiro público a times de futebol, é um absurdo.''

Primeiro, a Caixa tem patrimônio próprio. Segundo: não é ''dá'' o dinheiro, puro e simplesmente. É patrocínio, não é um agrado ou uma esmola, a Caixa com toda a certeza terá um retorno, afinal, vai estampar a sua marca na camisa de uma das equipes mais famosas do país, que aparece todo dia na TV, que em breve disputará o Campeonato Mundial de Clubes, no Japão, etc, etc...

''Sim, mas qual o sentido de uma estatal fazer propaganda?

A Caixa está no mercado, disputando espaço e clientes com bancos privados. Precisa de dinheiro, já que financia e incentiva programas sociais, além do óbvio objetivo de lucro. Logo, faz propagandas para angariar clientes e, consequentemente, dinheiro.

''Mas qual o sentido de uma empresa já consolidada fazer propaganda''

Partindo desse princípio, Coca-Cola e McDonalds não precisam mais fazer propaganda, certo? ...

''Só que a Caixa já  patrocinava outros esportes, entretanto não patrocinava diretamente clubes, porque não patrocina direto o Campeonato Brasileiro?''

Ao patrocinar outros esportes, a Caixa não visa o lucro diretamente através do patrocínio, espera reforçar uma imagem de empresa ''descolada'', com consciência social - ao investir no esporte amador e paralímpico. Irá continuar com estes patrocínios, que, aí sim, são mais como uma espécie de ''caridade'', já que não traz tanto retorno direto.

E sobre patrocinar diretamente o futebol. Patrocinar o Campeonato Brasileiro seria uma boa, mas já é a Petrobrás quem o faz...


Isso pra não contar vários outros patrocínios de estatais. Petrobrás no River Plate e Flamengo, Eletrobrás no Vasco, etc. Casos normais de empresas buscando visibilidade em grandes equipe do mais popular esporte do planeta.

Por fim, vos lembro o comercial vinculado em TVs com a global Camila Pitanga - e que já contou com o ex-jogador Raí. Será que uma empresa pública precisa de propagandas em rede nacional, dando dinheiro a empresas privadas de Comunicação? 


Risos.

domingo, 18 de novembro de 2012

A Copa do Brasil no rebaixamento do Palmeiras


Repetindo o Juventude, que em 99 venceu a Copa do Brasil e caiu no Campeonato Brasileiro (apesar de não ter disputado a Série B do ano seguinte pelos motivos que todos sabem), o Palmeiras confirmou o seu rebaixamento com o empate de 1x1 frente ao Flamengo, combinado ao empate da Portuguesa na partida contra o Grêmio (2x2) e à vitória do Bahia sobre a Ponte Preta (1x0). O ano, que tinha cara de redenção para a equipe palestrina devido à conquista de um título realmente importante após anos, acaba como um dos mais trágicos de sua gloriosa história. A pergunta que fica é: como a equipe conseguiu ir do céu ao inferno em um espaço tão curto de tempo?

A verdade é que o título da Copa do Brasil foi um ponto fora da reta. O elenco palmeirense é fraco, não o suficiente para ser rebaixado para a Segunda Divisão, mas também não forte o suficiente para iniciar uma arrancada de maneira a tirar a diferença de pontos que havia até as equipes fora da zona do descenso. Essa diferença foi concebida nos pontos perdidos quando a equipe dividia atenções com a Copa do Brasil, mas também, principalmente eu diria, com a superestimação que se deu ao elenco alviverde. Some a isso a pressão, externa e interna, rotineira no Palmeiras, que o elenco inexperiente não soube lidar e tivemos as condições base para o segundo rebaixamento do clube em Campeonatos Brasileiros.

Quando o Palmeiras empatou com o Coritiba em 1 x 1, no Couto Pereira, resultado que lhe deu o título da Copa do Brasil, o Campeonato Brasileiro estava na sua 8ª rodada. O Palmeiras ocupava a 18ª posição, com a campanha composta por 1 vitória, 2 empates e 5 derrotas. A primeira equipe fora da zona de rebaixamento era justamente o rival da final da Copa do Brasil, o Coritiba, com 7 pontos. Até esse ponto, o Palmeiras havia mandado a campo equipes mistas ou compostas em sua totalidade por reservas em mais da metade dos jogos até ali realizados.

A taça e os consequentes confetes jogados à equipe palmeirense anestesiaram a equipe por algumas rodadas, não ligando o senso de urgência que a situação requeria. Agravou-se esse sentimento quando, na 11ª rodada, a equipe saiu da zona de rebaixamento - permaneceu fora até a 13ª rodada. Criou-se aí que o Palmeiras sairia de vez da zona do descenso, o que ia de encontro ao pensamento que se tinha de superdimensionamento das capacidades do elenco alviverde.

Só a nível de comparação. Nessa mesma 8ª rodada, faziam companhia ao Palmeiras, os rivais Corinthians e Santos. As duas equipes, assim como o Palmeiras, dividiam suas atenções com outro campeonato, que no caso dos alvinegros era a Libertadores. Com elencos mais fortes ao do Palmeiras, conseguiram, mesmo sem ‘’ligar o senso de urgência, escapar do Z-4.

Quando a equipe retornou à zona do rebaixamento, não teve mais forças para sair. A partir daí, os fatores que mais foram decisivos para o rebaixamento foram a própria falta de talento da equipe, as contusões de jogadores que poderiam pelo menos melhorar um pouco a situação, como Valdívia e Daniel Carvalho, a instabilidade política e o hooliganismo promovido por algumas torcidas organizadas, que deram uma grande contribuição ao caos formado no clube e no elenco de jogadores. Em meio a tudo isso, Felipão ainda foi demitido e coube a Gilson Kleina a ingrata missão de tirar a equipe da lama, em um momento onde isso tinha ares de impossível.

Óbvio que não havia como optar entre a Copa do Brasil e a permanência na Série A. Mas é inegável a participação de um em outro. Agora que o Palmeiras consiga fazer um planejamento pro quase paradoxal dever de disputar a Série B e a Libertadores. O apaziguamento político é o principal ponto a se fazer. Disputas políticas (mais de grupos políticos distintos disputam o poder no conselho deliberativo) muitas vezes são postas acima do clube, o que só gera um conturbado ambiente, incompatível com uma equipe que pretende ter um clima estável. O grande problema do Palmeiras hoje é o próprio Palmeiras, ou, nas palavras, de um dos principais diretores alviverdes: ‘’O Palmeiras tem o vírus da autodestruição’’.

domingo, 11 de novembro de 2012

Aconteceu o que temíamos - ou o esdrúxulo regulamento da Série C

Há 3 anos a Série C não é mais o mais baixo nível do Campeonato Brasileiro. Essa modificação na hierarquia do Brasileirão fez com que a competição ficasse mais enxuta, com apenas 20 times. Entretanto, a fragilidade econômica predominante nas maioria das equipes que disputam a Terceirona não permitiu a adoção do mesmo sistema das competições superiores, os pontos corridos em turno em returno. Assim, um sistema de primeira fase de grupos foi instituído. Em 2009 e em 2010, foram 4 grupos de 5, onde os dois primeiros de cada grupo passavam ao mata-mata simples, quartas, semis e finais. Os semifinalistas subiam à Série B. Em 2011, os primeiros colocados dos grupos da Primeira Fase precisavam disputar ainda uma 2ª fase, composta por 2 grupos de 4. Os dois primeiros de cada grupo subiam e disputavam semi-finais para a decidir o título.

A Série C desse ano melhorou, indiscutivelmente, no quesito primeira fase. Em dois grupos de 10, turno e returno, a Terceirona proporcionou um maior calendário às equipes participantes. Entretanto, o complemento do regulamento o conspurcou. O fato de as equipes ainda terem que jogar uma quarta de final para definir os classificados para a Série B do próximo ano acabou por tirar aquele que justamente era a evolução do novo regulamento. Da maneira que foi feito, a primeira fase acabava por durar muito tempo se  levado em conta que ela poderia não valer nada. E foi justamente isso que acabou acontecendo. Os dois primeiros colocados de cada grupo (Fortaleza, Luverdense, do A, e Macaé e Duque de Caxias, do B) acabaram por não conseguir classificação. 

Os casos mais pertinentes foram os de Fortaleza e Luverdense. Absolutos na primeira fase, onde terminaram com 39 e 34 pontos, respectivamente, contra 24 dos 3º e 4º colocados, Icasa e Paysandu, as equipes sucumbiram perante Oeste e Chapecoense. O Luverdense aparentava já na fase de grupos uma decaída, quando ficou as 4 últimas rodadas sem vencer e perdeu a liderança para o Fortaleza. Nessa má fase, a equipe enfrentou a Chapecoense e foi eliminada já no primeiro jogo, quando perdeu por 3x0, na casa do adversário. A vitória em casa por 1x0 não foi suficiente para levar o clube à Segundona.

Já o Fortaleza terminou a fase de grupos ainda soberano, com apenas 1 derrota, ocorrida quando o time ainda era comandado pelo técnico Nedo Xavier. Sob comando de Vica, o Fortaleza não perdeu mais nenhum jogo da primeira fase, o que concedeu ao clube cearense o status de grande favorito, não só para o confronto contra o Oeste, mas para sagrar-se o campeão do certame. Contudo, a equipe viu esse favoritismo voltar-se contra si no clima de oba-oba que foi formado. O Oeste soube jogar bem nesse cenário, fazendo o apoio da torcida adversária se transformar em pressão para a própria equipe quando marcou o seu primeiro gol, aos 14min. Afoito, o Fortaleza, como um inseto em uma teia de aranha, foi presa fácil à marcação do time de Itápolis. Mesmo com uma maior posse de bola, o Tricolor só chegava através de bolas alçadas, vindas, sobretudo, de escanteios. Apesar do quadro não favorável, o Fortaleza chegou ao empate, em uma rebote de uma bola parada. O resultado, que levava o jogo aos pênaltis, teria tudo para acalmar os nervos tricolores, o que até aconteceu, vide os 10 primeiros minutos do Segundo Tempo. Uma bola na trave, duas defesaças do goleiro do Oeste e um gol anulado pareciam servir como porta-vozes da virada tricolor. Mas a equipe não aproveitou as chances que teve e voltou ao marasmante futebol que apresentou na primeira etapa, sucumbindo à forte defesa adversária. O Oeste, com uma frieza impressionante, resistindo às ofensivas, achou o seu contra-ataque tão desejado e marcou, para o desespero leonino. Sem criatividade e muito exposto aos contra-ataques, a equipe ainda levaria um 3º gol, para sepultar de vez a permanência pelo 4º ano seguido na Série C. A primeira derrota do técnico Vica veio justamente no momento em que não poderia vir.

Sou da opinião de que o mata-mata ainda deveria continuar, mas não para a decisão dos subintes e sim  para a do título apenas. Os times que integrarão a Série B do próximo ano deveriam vim já da Fase de Grupos.

As equipes que disputarão a Série B do próximo ano não tem nada a ver com isso. Assim como as equipes que ficaram pelo caminho. Ninguém pode reclamar de um regulamento que concordou, muito menos só depois de vê o quanto se deu mal com ele...

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Sobre o tal ''polêmico'' gol de Barcos


O lance da rodada (e do campeonato, arriscaria eu) saiu do duelo entre Internacional e Palmeiras, sábado no Beira-Rio. Após cruzamento proveniente de um escanteio, Barcos, acintosamente com o braço, manda a bola para o fundo do gol. Imediatamente após o lance, os jogadores do Internacional correram ao árbitro  Francisco Carlos do Nascimento para protestar, enquanto ele (e o assistente Evandro Tiago Bender), alheio à reclamação, valida o gol. É só após alguns minutos de veemente reclamação colorada e após uma conversa via rádio com o 4º árbitro que o juiz volta atrás e anula o gol - porém sem dar cartão amarelo ao atacante palmeirense. ''Coincidentemente'', a anulação do gol se deu logo após a TV exibir o replay detalhadamente.

Após a partida, o Palmeiras entrou com um pedido na justiça requerendo a anulação do jogo. Paradoxal ou não, o clube tem esse direito. Nenhum elemento externo pode influenciar a decisão dos 4 ou 6 árbitros. Não se poder valer de uma contravenção para evitar outra. Dessa maneira, os pontos do jogo estão impugnados até que se tome a decisão, em um julgamento a ser realizado no dia 8 de novembro .

O debate preferencial levantado por comentaristas, jornalistas, torcedores e palpiteiros de plantão após o lance é o do uso de recursos externos, como o auxílio de imagens das televisões. Bem, é um debate válido, mas, nesse caso em específico, não deveria ser levado à pauta pelo motivo óbvio de ofuscar um bem mais relevante nesse atual momento: o da ruindade da arbitragem nacional. Se a FIFA postergou o que  postergou até aceitar pôr um chip na bola (como teste, no Mundial de Clubes desse ano), não vai ser em um instante que legalizará um recurso bem mais decisivo e potente, que pode até mexer no fluxo da partida dependendo de como for aplicado. Sendo assim, esse é um debate contínuo, que apresenta real relevância apenas em um futuro longínquo. Hoje levar tal debate ao centro das discussões é colocar o juiz da peleja Francisco Carlos do Nascimento e o assistente Evandro Tiago Bender como parte das vítimas da birra da FIFA em não utilizar recursos eletrônicos. O lance foi um dos mais claros da história do futebol. Clamar à recusa da FIFA em tal caso é dar um atestado de ''vítima dos limites humanos'' a quem errou grotescamente e é o principal vilão do caso. O grande debate a se fazer hoje é o de remodelação de um quadro de arbitragem fraco e incompetente, que muda o destino de partidas e campeonatos graças a sua baixa eficiência. É um debate bem mais prático, acessível e o que se mostra mais necessário no momento. Outro ponto que o lance pode trazer à tona é a gravação do rádio comunicador dos árbitros, o que já ocorre por exemplo na Inglaterra. São assuntos mais práticos e mais necessários atualmente.



Que o jogo não vai ser invalidado, disso tenho total certeza. Basta um dos árbitros dizer que o 4ª árbitro foi quem atentou para a irregularidade e, pronto, não há como provar o contrário. Ao Palmeiras restará o choro. E às pessoas que gerem a arbitragem no Brasil?

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Futebol para quem não gosta de futebol


Rodada de terça da Liga dos Campões da Europa, a segunda da edição 2012-2013 do maior torneio interclubes do planeta. Jogavam Nordsjaelland x Chelsea, Juventus x Shakhtar Donetsk, Valencia x Lille, BATE x Bayern Munchen, Benfica x Barcelona, Spartak x Celtic, Galatasaray x Braga e Cluj x Manchester United. O resultado foram 24 tentos, um verdadeiro prato cheio para os programas esportivos do dia seguinte. Não para o Globo Esporte.  O programa esportivo diário da Globo mostrou apenas os gols de Chelsea x Nordsjaelland e Benfica x Barcelona. Quem viu o resumo das duas partidas feito pelo programa notou bem o foco dos editores. Nordsjaelland x Chelsea focou nos gols brasileiros de Ramires e David Luiz, enquanto no jogo do Barcelona contra o Benfica o foco esteve na queda feia de Puyol - que lhe renderá 2 meses fora dos gramados, pois gerou uma luxação no braço -  e em uma conversa banal entre Fábregas e Messi, que na ‘’dublagem’’ feita pelo programa ficou como um desafio feito por Fábregas a Messi para que o argentino o desse uma assistência a ele após driblar 4 jogadores.

Um pouco depois, o programa gastou quase 4 minutos em uma matéria onde o cantor Ivan Lins e várias pessoas tentavam adivinhar quem cantava uma música em um Ipod. O cantor era o meio-campista do Botafogo Seedorf. Logo depois, a interpretação do holandês foi mostrada aos seus companheiros de clube, que deram seu parecer sobre o desempenho do colega.

É notório o enfoque que o programa dá a fatos inusitados que acontecem nos jogos, assuntos extracampo e todo o tipo de matéria que tem o futebol apenas como ponto de partida. O humor presente e, algumas vezes, predominante nos esportivos da Globo se tornou regra. Exemplo é o próprio GE, que começou essa forma de levar o programa de maneira mais humorística em SP através de Tiago Leifert e logo se espalhou pelas demais praças, os ‘’gols do Fantástico’’, apresentados por Tadeu Schimidt e que mostra o resumo das partidas a partir de lances inusitados que nelas ocorrem, além de quadros como ‘’A câmera do beijo’’ e o semanal Esporte Espetacular, que, entre outras coisas, lançou o famigerado ‘’João Sorrisão’’.


A cúpula da Globo que gere o esporte percebeu o óbvio: o Brasil não é o país do futebol. A maioria da população brasileira não se preocupa com o futebol o quanto faz pensar o senso comum. Há um público-alvo bem segmentado e fiel, mas que não é suficiente quantitativamente para agradar aos índices da audiência. O resultado disso é uma busca cada vez mais desenfreada para agregar aqueles que não veem o futebol como notícia, que não acompanham o desporto a ponto dos fatos por si só o atiçarem a assistir ao programa. Um futebol pra quem não gosta de futebol.


O futebol tramita entre o jornalismo e o entretenimento; não é algo tão sério quanto outros assuntos que também interessam ao jornalismo, o que gera uma maior maleabilidade na forma de conduzir. É dentro dessa maleabilidade que age essa nova forma de se fazer jornalismo esportivo. Tiago Leifert mesmo já disse que para ele o futebol é 100% entretenimento. É errado não vê esse aspecto distrativo e conduzir o jornalismo esportivo de maneira totalmente circunspecta e quadrada, como se faz em outras áreas, entretanto ao abraçar apenas o lado do entretenimento, como faz Leifert e o jornalismo esportivo da Globo,  se abdica da objetividade do ofício jornalístico, deixando de lado o que realmente importa, o desporto, em prol da faceta cômica, já que nem sempre nos fatos esportivos em si reside algo engraçado ou que chame a atenção da maioria.


Vejamos o exemplo do Inacreditável F.C., que ‘’premia’’ com uma camisa do hipotético clube jogadores que percam gols extremamente fáceis. Imaginem um jogador em má fase, em um clube que também não vive os melhores momentos. Será que ele, em meio a toda a turbulência de uma crise de uma equipe de futebol, a cobrança das torcidas e do próprio atacante a si, tem por obrigação ter o bom humor e alheio suficientes para zombar de sua própria desgraça? É desejável que sim, mas é compreensível que não tenha. Portanto, recusar o gracejo é totalmente entendível. Foi como fizeram Deivid, Loco Abreu e Otacílio Neto, mas ao fazê-lo, esses jogadores passaram a ser ‘’perseguidos’’ pelo programa. Deivid teve que recusar várias vezes até ser atendido e nesse meio tempo se viu alvos de chacotas durante as reportagens do programa.




Como a Globo dita tendência, principalmente nas outras emissoras, o que mais se vê é a proliferação dessa conduta. E, como os resultados já se mostraram promissores, tal tendência deve ganhar cada vez mais adeptos. Bom para a audiência, péssimo para o bom jornalismo.